Um Oscar com "Tudo" pra chatear os chatos
E veja o trailer do novo filme com o elenco de "Tudo Em Todo Lugar Agora"
Os Daniels Scheinert e Kwan tinham doze anos quando estreou “Matrix”. Cresceram fãs de anime e fanáticos pelo Studio Ghibli. O livro favorito de Daniel Kwan quando garoto era “O Mochileiro das Galáxias”. Se sua história é parecida, você não precisa de explicação para a vitória dos dois diretores no Oscar. Eras leitor da revista “Herói”?
Talvez você seja de geração e formação um pouco anteriores. Aí podes pensar neles como herdeiros de Spike Jonze, duas décadas mais velho.
Se você como eu era jovem nos longíquos anos 80, vais reconhecer a choradeira contra os prêmios para “Tudo em Todo Lugar Agora ao Mesmo Tempo” como remix do que ouvimos nos anos 80. Quanto xingamento contra a “estética do videoclipe”, que ia “matar o cinema”.
Não é filme pra levar prêmio da Academia? Triunfo muito merecido e aqui estão quatro boas razões. Talvez cinco, pra chatear ainda mais os amigos chatos que não param de reclamar.
A primeira é que é um filme que ganha muito se visto na telona, o que Hollywood e nós temos ótimas razões para estimular.
Você pode perfeitamente detestar “Tudo em Todo Lado”. Mas se viu em casa, não viu nem metade. Mesma coisa com potenciais blockbusters que nos esperam em 2023, os próximos “Duna”, “Indiana Jones”, “Missão Impossível” e super-heróis diversos. São filmes feitos pra gente assistir no cinema, preferencialmente em Imax 3D tonitruante.
Caso contrário repetes minha experiência de garoto, assistindo “2001 - Uma Odisséia no Espaço” na TV Globo, em português e com anúncios, na minha TV 21 polegadas, e achando chato pra cacete.
Filmes mais e mais têm que nos dar ótima justificativa para sair do sofá e da frente das 50 polegadas & streaming. Estamos de volta à era de ouro dos épicos, a la “Ben-Hur” e “Cleópatra”, mas pode chamar de “Avatar”. Vamos ao cinema como quem vai ao estádio ver seu time, ao festival celebrar sua banda, ao bloquinho de Carnaval, ao reveillon no Rio. É uma “experiência”.
Não à toa Spielberg festejou Tom Cruise esses dias como o cara que salvou Hollywood, levando hordas pra ver “Top Gun: Maverick” (matinezona no cinema, não há porque reassistir em casa). Cinema pode até às vezes ser arte, mas sua primeira vocação é ser espetáculo, sempre foi, problema nenhum e muito pelo contrário.
Os outros filmes na corrida do Oscar, com suas qualidades e defeitos, perdem muito menos se você assistir no seu notebook. Este foi produzido pelos irmãos Russo que fizeram os últimos dos Vingadores, surpresa zero.
A segunda razão porque “Tudo em Todo Lado” é típico filme pra ganhar Oscar: o roteiro derrama boas intenções.
É um verdadeiro checklist de temas relevantes do multiverso progressista-identitário: gênero, feminismo, etarismo, imigração, neurodivergência, “propósito”. Questões de classe ficam de fora, mas assim é a nova esquerda americana. Tá garantidíssimo o bom acolhimento da crítica contemporânea. Podia ser pior; podia ser insensível ou fascista.
A terceira razão porque “Tudo ao Mesmo Tempo Agora” é o filme que Hollywood quer celebrar é a habitual: grana. Todos os outros concorrentes ao Oscar foram fracassos de bilheteria. O filme dos Daniels custou menos de U$ 25 milhões e já passou dos U$ 108 milhões de bilheteria.
Uma possível quarta: é um filme fundamentalmente asiático, no século da Ásia, onde mora a maior audiência do planeta. Dinheiro fala, todo mundo escuta.
Pra fechar com chave de ouro, o filme entrega indispensável epopéia de superação. No caso mais potente porque dentro e fora das telas. Os Daniels fisgam nosso coração com a volta por cima de Ke Huy Quan, que enfrentou preconceito e dificuldade e tal e dá emocionante volta por cima.
Quem resiste a um final feliz, ainda mais “based on a true story”?
Agora aproveita e veja o trailer recém-lançado de “American Born Chinese”. É outro épico asiático-americano imperdível, com a galera de “Tudo”, produzido pela Disney, com o diretor de “Shang-Chi” e baseado em um ótimo gibi de Gene Luen Yang!
Coçando pra ver! Aqui, no centro da América, parece, estreia quarta.
Bem, assisti o filme há alguns meses, e como estou ficando velho já não me lembro bem da trama, mas sei que saí do cinema feliz por ter me divertido. Vou ver de novo.
Mas o que me marcou mais foi Nada de novo no front. Embora não seja nada de novo (no front) choca e faz pensar. Quanta violência, sofrimento e insanidade provocados por uma guerra que ninguém queria lutar e que todos acabaram lutando sem saber bem por quê.
O que me leva ao último lançamento do Ken Follet, Nunca, que mostra que essa maluquice poderia acontecer de novo no mundo de hoje. Recomendo.