Se tem uma coisa que eu aprendi na vida é ser editor. E editor sabe que a coisa mais importante do seu trabalho é cortar.
É a mais bela, a mais necessária, a mais excitante coisa a fazer, a razão porque editores estão na Terra: cortar. Selecionar, reduzir, eliminar. Jogar o resto no lixo. Repita, repita, repita.
Cortemos, cortemos cirurgica e brutalmente, sem dó nem piedade, até sobrar só o miscroscópico ínfimo corpúsculo capaz de carregar sentido.
Desbastemos o mato alto, foice nele, para que o horizonte volte a ser visível.
Queimemos as ruínas, taca fogo, para enxergarmos novamente a terra que se esconde abaixo.
Menos, menos, menos. Reduza, reduza, reduza. Corte, corte, corte.
O amigo Antonio Stotz postou link pra esse texto no nosso grupo de Zap com o seguinte comentário: “Não sei se rio ou choro”.
É de um desses sabe-tudos de rede social. Simplório e mal-escrito, mas tenho minhas razões pra sugerir sua leitura.
Taí abaixo um trechinho, tradução cortesia dos nossos tech overlords & colaboradores do Netanyahu na Google., Inc:
Habilidade subestimada em 2024: Ignorância estratégica
Em um mundo de informação infinita, a ignorância estratégica nunca foi tão valiosa.
A cada minuto, 500 horas de vídeo são enviadas para o YouTube
A cada dia, 500 milhões de tweets são enviados para o X
A cada ano, 67 milhões de pessoas morrem
A verdade: as 24 horas que lhe são concedidas a cada dia não são nem mesmo capazes de consumir 0,0000001% dos eventos do mundo.
Truque divertido:
Quando as pessoas te criticam por não ter uma opinião sobre a nova tendência: comece perguntando a elas sobre a situação atual no Djibouti, Jezekstan e Eswatini.
Você não apenas revelará que elas não estão atualizadas sobre a situação atual, como também nem sabiam que esses países existiam.
Observação: Djibouti e Eswatini são países reais. Jezekstan é um país que inventei. É uma maneira divertida de testar se vão fingir que conhecem um país inventado.
Este teste mostra que elas não se importam de verdade com a ignorância - é apenas um instrumento para envergonhar o próximo e demonstrar que está por dentro do tema quente do momento.
Quando você olha para todos os eventos mundiais daquele dia - todos nós somos ignorantes.
A boa notícia é que existem diferentes configurações disponíveis no videogame da ignorância: Ignorância de baixa agência e Ignorância de alta agência.
Ignorância de baixa agência
A ignorância de baixa agência absorve passivamente a voz mais alta do noticiário ou dos algoritmos do "para você".
É um abismo infinito que nunca termina. "Não sei" é sinal de fraqueza.
A ignorância de baixa agência pode parecer altruísta, mas na tentativa de se manter sabendo de tudo, não se mantém sabendo de nada.
Ignorância de alta agência
A ignorância de alta agência é estratégica.
Está ciente de que a atenção é o bem mais escasso na era da abundância de informação.
A ignorância de alta agência busca artivamente informações de fontes de alto valor. Possui firewalls contra o consumo passivo dos piores eventos do mundo ou do drama das redes sociais.
"Não sei" é sinal de força. A ignorância de alta agência pode parecer egoísta, mas na busca do foco estratégico, pode realmente causar impacto em algo.
Escolha seu personagem:
Estamos todos na sarjeta da ignorância, mas alguns estão olhando estrategicamente para as estrelas.
Alguns estão espumando de raiva de forma não estratégica com o pior evento que aconteceu hoje - do qual nem vão se lembrar daqui a um ano.
Então. É esse texto aí do alto. Pobre Oscar Wilde, citado desse jeito tão mal ajambrado. E é verdade, Eswatini existe, a gente tentou entrar lá uma vez e nos pararam na fronteira, ainda chamava Suazilândia e não era permitido voltar pra África do Sul e…
História de 1997. Um dia te conto.
O textinho do George Mack que botou o amigo pra rir e chorar é essa coisa mal escrita e simplória. Mas, bem, é isso. É importante. Sério mesmo.
Para você ter tempo para o que é importante, você precisa negar tempo para tudo que não é. Tempo e esforço e banda mental e espaço no seu coraçãozinho.
O que é importante para você, pros seus, pra rua, pro mundo?
Onde seu esforço pode ter algum resultado? Onde é só energia dispersa?
A ignorância estratégica é mais que êxtase. É o único caminho para a Sabedoria.
Ignorar com propósito. Ignorar mesmo que seja terrível, dolorido e te encha de culpa. Ignorar todo o possível para que o necessário se imponha em toda sua pertinência, urgência, permanência.
É muito ruim ficar doente. Quando você não está confortável no seu esqueleto, sua visão ganha viseiras. Aparece um túnel na sua frente.
Hoje é meu décimo primeiro dia com Dengue. Estou muito melhor. Ainda não estou dez, mas estarei em pouco tempo.
O que ganhei com a Dengue? Mais raiva e menos paciência com a estupidez humana, com a lambança e a lentidão das instituições, com o carneirismo dos meus conterrâneos. Mais disposição para ignorar o ignorável.
E mais calma. Calma, calma. Vai passar. Tudo passa.
Até o dia em que não vai passar mais. Quem passará sou eu.
Muito obrigado, Aedes filho da puta, prefeito calhorda, ministério de merda.
Vamos ao que interessa, ao que o cara lá de cima falou desse jeito todo tuiteiro-coach de ameba.
Vamos à ignorância seletiva, meditada, estratégica, de “alta agência”.
Vamos agir, vamos ignorar, vamos ao “não”. Snip, snip.
Se servir de alento, minha irmã está com câncer metastático nos ossos, onde pontos apareceram agora no fígado e nos pulmões.
Por favor, sem melodrama de como a vida é injusta e meus pêsames, estamos contigo.
Ela teve câncer de mama em 2015 e após tratamento sofreu remissão.
A volta dele nessa versão é a coisa mais comum que existe.
Não é especial.
Sem brincadeira, é só fazer uma pesquisa por aí.
O que me fez te dizer isso foi alguns dias atrás onde ela estava reclamando da vida - e acredite, ela ganhou o direito de reclamar do que quiser - confabulando sobre política e os canalhas que a habitam, onde virei para ela e respondi se ela achava que tinha mesmo de perder tempo com isso.
E aí ela me perguntou se eu queria ir visitar o deserto de Atacama e o Chile com ela.
Eu respondi que estava em outra.
Estou vendendo minha casa, saindo desse inferno que é SP e indo morar em São Sebastião.
Ainda estou procurando, mas outro dia me caiu a ficha.
Vou seguir meu próprio conselho e deixar de perder tempo com bobagem.
Casa e terreno eu posso procurar a qualquer hora. Minha irmã estar por aí batendo pernas daqui a 20 anos vai ser muito difícil de acontecer.
Então que se dane. A casa fica pra depois, estou indo com ela para o Atacama.
Se der e a idade permitir a gente toma ayahuasca
Vamos cortar, vamos cortar.
Você acabou de definir como estou me sentindo. E olha que eu tive dengue em 2007... Mas estou com outros achaques, não causados por mosquito ou vírus, e morando numa cidade onde conseguir um raio X pelo SUS é quase impossível. Cansei de tudo e todos. De lutar por uma coisa que nunca será de quem precisa dela. E ainda ter que aguentar o papinho de quem só quer se eleger ou reeleger.