Aprendi tem três dias que Carlos Rennó compôs com Rita Lee uma declaração de amor ao Corinthians. Voltei agora de umas comprinhas. Vi Rennó, depois de uma década ou mais.
Quem me ensinou foi uma amiga queridíssima, Silvia Bigi Makansi, Sil, que vou chamar de Silvia Laura, porque ela lê isso aqui e vai se sentir devidamente sacaneada.
Sil é corinthiana além de roxa, como chama? Púrpura profundo? No dia da morte de Rita, mandou no nosso grupo de amici essa canção do coração, “Sou fiel”. Voz de Negra Li, créditos pra Rita e Rennó. Olha ela aqui com outro timão, no Altas Horas, onze anos atrás.
Fui lá dar os parabéns pra Rennó, sacolas na mão. Me contou ali de pé no meio das verduras e castanhas que tem mais uma escrita com Rita, “Mille Bacci”. Em italiano!
Essa ouvi pela primeira vez fazem cinco minutinhos. Eu desconheço tanta coisa que nem sei. Até música da estrela mais importante da nossa juventude, co-escrita com o cara que me deu a primeira chance como, hmm, “crítico musical”, minha primeira pseudo-carreira de várias.
Eu devia ter umas duas semanas cobrindo férias na Folha quando Rennó me passou o primeiro disco pra fazer resenha na vida, 1988. Perguntou, “quer escrever”? Ô se quero. TNT e Garotos da Rua, duas bandas gaúchas, LP split. Meti o pau médio. Ele riu e publicou. Agradeci agorinha, “você é responsável por muita coisa.”
Rennó era então editor de música da Ilustrada. Isso anos depois de “Escrito nas Estrelas”. Compositor no Brasil não fica milionário, jornalista menos ainda. Mas as amizades compensam.
Por causa da dica de Sil, encuquei: quais são as outras músicas compostas por Rita que Rita nunca gravou?
Antes de encontrar essa listona caprichada e cheia de surpresas do Mauro Ferreira, de onde tirei a pérola que vou tocar no próximo podcast ABFP, topei um link sobre Rita que não dava pra pular.
Era artigo de outro cara talentoso e generoso que tive a fortuna de encontrar na Folha e vida afora, Thales de Menezes. É um panorama das atividades literárias de Rita Lee.
Mais uma pra redimensionar minha ignorância. Tarado por quadrinhos, não fazia ideia que Rita tinha feito tiras com Laerte. Muito menos lançado o livro “Storynhas”.
Vou cercando, me aproximando. Em velhas entrevistas, Rita revela paixão por meu ídolo Fred Astaire. Aqui canta “Cry Me a River” lindamente, a partir dos 2:59, e cita Barney Kessel. É o guitarrista do disco que mais ouvi na vida, “Stepping Out”, o sumo de Astaire.
Cada amigo com sua Rita: a parceira, a torcedora, a escritora.
Vendo velhos vídeos dela, descubro Ritas diferentes. Também reencontro trejeitos e trocadilhos que me irritavam, gracinhas que eu não via e não vejo graça. Jovem, eu levava rock muito a sério. Rita, nossa maior rocker, muito mais e, felizmente, menos.
Ela cresceu quando rock era só rock´n´roll, música de roceiros, leve e picante, diversão pra molecada. Como boa parte da nossa música caipira. Rita cresceu puxando os erres, embalada na irreverência de Inezita Barroso e Hebe Camargo. Nasceu 17 anos antes que eu em Americana, pertinho de onde cresci.
Podia ser minha vizinha, minha tia - minha amiga.
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Rita nasceu em Americana.
André, quem nasceu em Americana? O Google diz que você é de Piracicaba e Rita é, todos sabem, de Sampa.