Laerte no Unlock, falando do filme baseado no seu personagem “Overman”
A CCXP traz sempre uma perspectiva nova sobre o estado do entretenimento - onde está e para onde vai. Basta passear de olhos abertos pelos corredores da São Paulo Expo e prestar atenção na repercussão digital do evento.
Vou todo ano e sempre aprendo um bocado. Além de me divertir, claro. Nunca fui nerd, porque quando eu era criança ainda não usavam essa palavra. Mas pode me chamar de nerd que não me importo não.
O Unlock vai vários passos além da CCXP, para quem quer entender as tendências no business da diversão. Este ano foi a primeira vez que participei do evento, que faz parte da CCXP e é voltado para os negócios e a inovação da indústria do entretenimento. Cheio de profissionais de criação, de conteúdo e marketing. Gente que pensa a propriedade intelectual do ponto de vista da grana - mas não só.
Bons papos por lá, painéis iluminadores. Alguns pontos que me chamaram especialmente a atenção:
Mônica foi lá falar da Maurício de Souza Produções. É impressionante como a MSP se transformou em uma década, seguindo a cartilha da DC Comics - apresentando múltiplas versões do mesmo personagem icônico, para diferentes públicos, idades e necessidades. Tem filme da turminha versão infantil e teen, tem game pra nenê e criança maior, tem graphic novel para adulto e licenciamento de todo jeito. A Mônica é o nosso Batman…
Ou talvez nosso Batman seja o Overman, brasileiríssimo herói criado pela nossa maior quadrinista, a Laerte. É uma aposta ousada em um crossover de públicos: a galera geek e os muitos fãs da produção recente e postura progressista de Laerte. E vai decolar em licenciamento? A conferir resultados e repercussão.
Estavam lá Podpah e Jovem Nerd. Os podcasts são um fenômeno no Brasil. Passaram a fazer parte da vida diária de milhões de pessoas. Muito trânsito, talvez? Fato é que os formatos se diversificam e popularizam. Outro fato é que pouquíssimos podcasts dão alguma receita. O líder Spotify anunciou demissão massiva dias depois da CCXP. A bolha estourou?
A produção americana, brasileira e global dos streamings marca a diferença entre os diversos players. A Netflix é disparada a que oferece mais diversidade de produções de países diferentes; a HBO tem o melhor cardápio de produções para adultos; Amazon têm seus hits exclusivos e superproduções para o cinema, com pegada marcadamente hollywoodiana, e aumenta oferta de esportes; Apple ainda belisca o negócio de conteúdo próprio.
Avança o conteúdo nacionalíssimo, com pegada popular, de “Cangaço Novo” às novelas com Grazi e Giovanna Antonelli no Max, até o YouTube - e Globo, claro, à frente.
Na oferta múltipla porém nichada, o Crunchyroll dá lição: oferece séries, filmes, clipes, shows na íntegra, quadrinhos e games, sempre para o mesmo segmento: o dos fãs da cultura pop japonesa. Fidelizam melhor que todos esses grandões acima.
A era de ouro das franquias acabou? É o que alguns prevêem após a péssima performance da Disney em 2023. Veremos, mas de fato acabou a ilusão de que seria possível atrair repetidamente multidões dos quatro quadrantes (homem-mulher, jovem-velho) para ver os mesmos personagens, situações e efeitos especiais espetaculares. A grande franquia “nova” do ano é Barbie, metalinguística, ideológica e claramente focada em público feminino 15-29.
Se alguém tinha alguma dúvida que marcas de fora do universo habitual dos geeks já perceberam que têm que conectar com todo esse mundo pop, basta citar o patrocínio, estande e ativação com foco na Amazônia realizado na CCXP pelo vetusto Banco do Brasil. No Unlock: Volvo.
Finalmente, a internacionalização do negócio do entretenimento brasileiro ficou explícita com o duplo movimento da Omelete Company, de e para o exterior. Da Alemanha ela trará a Gamescom, maior evento de games do planeta. Será em junho em São Paulo. E de São Paulo ela leva à cidade do México sua feira-bandeira. A CCXP-MX será em maio. Em ambos os casos, Omelete fez sociedade com empresas muitíssimo maiores. Um salto muito ambicioso que vai exigir muito, mas muito mesmo da Omelete Company.
Mas a galera já provou que sabe fazer feira e fazer ela repercutir planeta afora. A CCXP engaja mais que qualquer outra Comic Con do mundo e faz a alegria da galera aqui - foi um novo recorde de público este ano, 287 mil pessoas em cinco dias.
Não tenho como não citar que a CCXP teve cobertura da HERÓI, no portal Terra, com o grande Pablo Miyazawa e seu amigo aqui. Foram 18 vídeos sobre as principais atrações da feira - e fomos dos primeiros a mostrar os estandes, ainda em fase de montagem.
A HERÓI era uma revista geek antes desse termo existir, feita por fãs e para fãs! Comemora 30 anos de lançamento em 2024 - teremos várias celebrações, co-criadas com a galera; me siga aqui na newsletter www.andreforastieri.com.br para mais atualizações.
Deixo aqui a torcida para cada vez mais conquistas pro time da Omelete Company. Em particular os camaradas Fábio Reis Otávio Juliato , Marcelo Forlani , Guilherme Scalco e em especial o Gustavo Giglio , responsável pelo Unlock, que me convidou para conhecer o evento. Valeu e vamos pra 2024!
Enfim uma análise lúcida!