Na recente cobertura sobre o novo Plano Diretor de São Paulo, a imprensa paulistana disse tudo que era preciso ser dito. Estava tudo lá pra quem quis ler. No meio de um monte de chaveco, claro.
Para ler direito é preciso ler nas entrelinhas. O que exige ler com cuidado. Requer atenção. Não dá pra fazer nos intervalos das notificações do Insta e Zap. Sinto muito, jovem distraído.
É nas entrelinhas - nas ênfases e nuances, na seleção e ordenação das fontes, na redação dos títulos e legendas, nas escolhas dos dados que entrarão nos infográficos - nos detalhes, enfim, que mora o jornalismo.
Ou, às vezes, onde ele se esconde.
É infernal? É assim que é.
É o caso do caderno especial do “Valor Econômico” sobre Energias Renováveis, oito páginas de boas e animadoras notícias. Mas como ensinava o Seu Frias, dono da Folha: “notícia é notícia ruim, notícia boa é publicidade”.
Escondidinha - mas na primeira página - está a notícia péssima. O plano estratégico de nossa maior empresa de energia, a Petrobras, prevê que 85% dos investimentos para o período 2024-2028 irão para combustíveis fósseis, e só 15% para renováveis, para descarbonização. Sublinhei para você encontrar, olhaí.
O mundo não vai cumprir o Acordo de Paris. As projeções são para a temperatura subir de 3 a 4 graus neste século. As consequências vão além do pior que você e eu somos capazes de imaginar.
Lembre desse pequeno parágrafo quando encontrar a próxima reportagem sobre a Petrobras e o governo federal e seus grandes esforços para a transição energética. Elas virão e virão aos montes.
E lembre: o jornalismo não é perfeito, mas não inventamos ainda ferramenta melhor para separar notícia e publicidade; como toda ferramenta, funcionará tão bem quanto a maestria de quem usa.
UM MINUTO DE COMERCIAL
Que tal espalhar pros seus amigos e convidar eles pra se inscreverem nesta newsletter?
Thanks a lot!
Pensando como economista, se a principal empresa de energia do país continua no século XX, como pensar o presente?? Brasil, eterno país do futuro...