Sou filho, neto, bisneto de gente que amava a terra. Que vivia a terra, vivia da terra. Muitos imigraram em busca de terra. Eram colonos, trabalhadores braçais, pequenos sitiantes. Os Forastieri, os Battistela, os Sajovic.
Meu pai, que era médico mas amava sua chácara, dizia que um dia eu também ia amar a terra, que estava no meu sangue. Não aconteceu. Não herdei vocação para o plantio ou a criação.
Zero preconceito contra o campo. Não é porque não tenho preconceito que não tenho críticas. Normalíssimo.
Há no Brasil uma dicotomia desinteligente sobre o tema. De um lado temos a defesa intransigente, acrítica do Agro como ele é. De outro, uma condenação do Agro como a maior fonte de atraso e violência. De um lado, o elogio babão do “produtor rural” como herói que sustenta a nação; do outro seu julgamento como opressor sem possibilidade de redenção.
Sem entrar em grandes profundidades: sem agricultura e pecuária, não há humanidade. Pode ser que no futuro todo nosso alimento seja produzido em fábrica, sem plantar a terra; será uma boa coisa, deixar de lado a mortandade de animais para a nossa mesa; sim, sou carnívoro. Contradições aqui não faltam.
Mas hoje é o que temos: plantar e colher, criar e abater. Cabe fazer isso da maneira mais inteligente e menos destrutiva, mais eficiente e menos cruel. Não adianta sonhar com um mundo só de rocinhas sustentáveis, nem se render à monocultura descerebrada. É preciso equilibrar e planejar, financiar o que é bom, punir o que é ruim.
É tarefa trabalhosa, quando a remuneração máxima do investimento financeiro é o único valor de uma sociedade - e se não é hoje o único, é certamente o mais poderoso. E olha o que é o Brasil: quanta terra e quanta água, quanto potencial e pobreza, quanta diferença.
Mas como a grana fala tão alto, grita forte essa notícia do Valor Econômico. Sai muito caro para os próprios produtores rurais o aquecimento global. R$ 300 bi nos últimos dez anos! Se não for número maior ainda.
Como o Clima está piorando rapidamente, nos próximos dez será certamente muito mais. Lembrando que o Brasil está entre os cinco maiores responsáveis por ele. Não por sua matriz energética, mas pelo desmatamento, obra da banda podre do Agro.
O produtor rural que não quiser enfrentar eventos climáticos extremos e os prejuízos que os acompanham precisa brigar contra o desmatamento. O grande, o médio e o pequeno. É bom senso. É melhor pro Brasil, pro mundo e pro seu próprio bolso.
Aqui há uma análise interessante sobre o tema.
Eu ainda acredito que é necessário repensar um pouco como deve ser o futuro do Brasil, em termos de produtividade, políticas econômicas (quando falamos em “produção”), e entender de fato o nosso papel no aquecimento global.
https://open.substack.com/pub/hannahritchie/p/global-warming-contributions?r=1zuauq&utm_medium=ios&utm_campaign=post
Em tempo: dá uma olha no título. tem algo errado ali