Você jamais lerá minha grande análise sobre as manifestações de junho de 2013. A razão é: não sei o que penso sobre tudo aquilo.
Na época prestei atenção, sempre de longe. Não frequento manifestação. Vi uns pedaços pela TV, dei tuitadas, escrevi umas coisas. Encontrei no meu empoeirado Gmail texto que escrevi em 2013 sobre passe livre, tarifa zero e tal no meu blog. Republico aqui hora dessas.
Muitos amigos deram pelo menos uma passadinha nos protestos, principalmente os mais jovens. Virou programa da galera. Tava bom pra arrumar namorado, ou pelo menos peguete. Eu ainda era sócio de editora, liberava a equipe mais cedo pra ir pra rua, “divirtam-se ou comportem-se”.
Tenho lá minhas opiniões sobre ação direta (a favor) e sobre os Black Blocs (é teatro). Ei, publicamos um livro sobre eles na Conrad, uns dez anos antes das “jornadas” de 2013.
E também sobre as armações reaças do período. Hoje sabemos com detalhes a influência de organizações norte-americanas no nada espontâneo espocar de movimentos de direita por aqui, MBL inclusive, pra não falar do reaçol que veio depois. Teve grana e pressão ianques à beça pra mudar o regime, e mudaram mesmo, com o Supremo, com tudo.
No aniversário de dez anos dos protestos, pipocam artigos. O mais proveitoso para mim foi ler esta lúcida entrevista com Camila Jourdan, manifestante na época condenada à prisão, hoje professora de filosofia da Uerj.
A análise mais obtusa em que tropecei foi a da revista Focus Brasil, da fundação Perseu Abramo. “Focus trata do aniversário dos protestos de junho de 2013, que geraram o fascismo no Brasil.”
Evidente que tivemos fascismo a la bananêra já no Século 20 - sob Getúlio e sob o AI-5. Colocar exclusivamente na conta de quem foi pra rua em 2013 o tanto de merda que veio depois é falsificação histórica.
Trombei depois com um tweet da deputada Letícia Chagas, do coletivo SP Pretas, eleito pelo PSOL. Criticava esse discurso raso feito poça de certos influentes petistas.
Retuitei ressaltando o óbvio inescapável: a resposta de Dilma aos protestos foi fazer promessas em rede nacional que abandonou logo a seguir.
Fez sucesso meu tweetzinho. Mais de 30 mil views, xingamentos de petistas furibundos. Um disse que apoiei o “impítima”, outro que sou mídia golpista, bolsonarista etc.
Escrevi diversas vezes contra o impeachment. Votei e divulguei voto em Haddad e Lula nas últimas duas eleições. Não importa.
Pra quem reza pelo missal “nada nunca é culpa do PT”, só se salva quem beatifica a injustiçada Dilma, santifica o iluminado Lula e demoniza todo o resto. Inclusive e principalmente os que estão à esquerda do partido. Como o PSOL. Ou como Camila Jourdan.
Perguntada sobre a responsabilidade de Junho de 2013 pela eleição de Bolsonaro, ela responde:
“Quero olhar o levante por ele mesmo, não pelo ponto de vista das disputas pela institucionalidade. Quem ganhou a Presidência na França após maio de 1968 não se compara ao fenômeno maio de 68. Alguém diria, por isso, que maio de 68 na França não deveria ter existido? Ou que a eleição posterior é seu significado mais profundo?”
Tristemente, alguém diria, sim. Quadrúpedes pra isso não faltam. Gado não tem partido - tem dono.
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compreendo totalmente suas restrições aos "protestos" de 2013. Até o momento só vi saírem dali os boçais do mbl; uma presidenta legítima ser caçada sem motivação verdadeira; e uma meia dúzia de fascistas que se tornaram muitos. Até hoje não sei livre 'de quê' este país estaria com eles. Aliás, nunca me senti mais acuada.