“The Jeffrey Lee Pierce Sessions” reúne homenagens ao pouco conhecido e muito admirado cantor, compositor, guitarrista. O álbum sai em setembro. Jeffrey morreu tem 27 anos, aos 37.
Essa balada reúne Nick Cave e Debbie Harry, por quem Jeffrey era obcecado e que se tornou meio que sua madrinha. Leia nas memórias da Debbie, “Face It”.
Esta abaixo saiu faz cinco dias e tem Dave Gahan cantando “I gave you the key to the highway and the key to my motel door / I´m tired of leaving and leaving and I can´t come back no more.”
E tocando guitarra e escalavrando qualquer coração.
Ou você pode ouvir essa na voz do próprio Jeffrey.
É fácil lembrar de Jeffrey quando você está meio chateado com a morte e a vida de Sinéad O´Connor. Jeffrey era perigoso e patético, equivocado e certeiro. Era diferente.
Se você nunca ouviu falar dele, o texto abaixo explica. É de 1996. Copio e colo sem autorização, celebrando tempos em que a gente tinha um desse pra ler toda segunda-feira, no Folhateen.
Morreu o roqueiro que era igual a nós
ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
ESPECIAL PARA A FOLHA
Um cara que poderia ser qualquer um de nós morreu: Jeffrey Lee Pierce tinha 37 anos quando uma hemorragia cerebral o liquidou no dia 31 de março passado.
Pierce foi líder do Gun Club, um perturbador grupo que unia o blues mais desesperançado a estilhaços de rock and roll.
O Gun Club e Pierce nunca tiveram o reconhecimento da massa. Sua música incomodava demais para isso.
Olhe para a desoladora cena do rock brasileiro. Veja aquela gente que cresceu tocando flautinha, escutando Caetano Veloso, posar agora de roqueiro, jaqueta preta e óculos escuros.
Dá vontade de chorar. Mas, então, lembre que existiu na face da Terra um roqueiro/blueseiro tão honesto e visceral como Jeffrey Lee Pierce, que vale por uns 200 poseurs desses com que a gente cruza nas deprimentes madrugadas cariocas/paulistanas.
Para começar, Pierce era um viciado em discos. Enquanto crescia na Califórnia, escrevia sobre música negra para a revista alternativa "Slash".
No final dos anos 70, desenvolveu uma obsessão doentia pelo Blondie e sua estonteante vocalista, a ex-coelhinha Debby Harry.
Perseguia Debby em hotéis. Na frente dela, perdia a noção das coisas. Acabaram ficando amigos (Debby jura que nunca rolou nada) e colaborando em discos um do outro.
Em 1980, Pierce, já então uma enciclopédia ambulante de música pop, fundou o Gun Club com Kid Congo Powers (ex-Cramps, depois dos Bad Seeds de Nick Cave) no baixo.
No ano seguinte, gravaram o LP "Fire of Love", até hoje a mais perfeita combinação de niilismo blueseiro com angústia punk já registrada em vinil.
A essas alturas, os problemas de Pierce com álcool e heroína começavam a sair de controle.
Não se sabe se a morte dele, na casa do pai na ultrapuritana Salt Lake City (Estado de Utah, EUA), está relacionada a drogas.
Você provavelmente nem ouviu falar da morte dele. A revista "Rolling Stone" deu uma coluninha e tem alguma coisa circulando na Internet. Nada além disso.
Foi por isso que eu quis falar hoje de Jeffrey Lee Pierce. Todos nós que gostamos de rock e perambulamos, sobrevivendo à própria existência, em busca de um significado para essa escrotidão toda, devemos alguma coisa a ele.
Mesmo que nunca o tenhamos conhecido, nem ouvido sua música.