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É meu aniversário. Fazer o quê?
Tarde demais para viver rápido e morrer jovem, mas tudo bem
58 anos hoje. Fazer o quê? Comemorar que até agora a vida foi mansa.
Pouco fiz por merecer. Nasci com as cartas a meu favor, fui vivendo e aprendendo a jogar.
Ninguém escapa de algum sofrimento. Atravessei quase incólume as armadilhas do acaso e as auto-impostas. Caminho suave.
O campo vai ficando minado. Tenho muito mais areia na parte de baixo da ampulheta que na de cima. Não se esvai em velocidade constante, turbilhona na reta final, onde já me sinto.
O arrefecimento das paixões, o tal “waning of powers” é bem perceptível. Me importo, irrito, animo menos. É surpreendente a queda na banda mental. É isso que eles querem dizer quando eufemisticamente explicam “com a idade você fica mais seletivo”.
Veremos em que ritmo encruarei. Estatisticamente tenho aí uns 25 anos pela frente, figa, até me pegarem coração, câncer ou Alzheimer, pela lógica e precedentes familiares. É bastante tempo. É pouco tempo!
Fazer o quê? Regime, check-up, torcer por novos remédios high-tech e, chora não, mais exercício. Serei um coroa enxuto.
Nada disso resolverá de vez minhas bursite e tendinite. São resultado de décadas de abuso ao teclado e mouse e me obrigam a digitar menos.
Fazer o quê? Escrever o necessário, evitar o supérfluo. Ditarei textos, gravarei vídeos e áudios. Mais mentorias e conversas. Mais bons negócios que só a experiência proporciona.
E continuarei espalhando informação inspiradora e impertinente e encrencando às vezes, porque o sangue ainda sobe. A gente envelhece mas não exatamente amadurece, jovens.
Fazer o quê? Ir aposentando à prestação, com prazer e em boa companhia. Amor e amizade são os únicos tesouros possíveis, jovens.
Uma intuição de que minhas décadas até aqui tiveram lá seu sentido também conforta. O André de quarenta anos atrás ficaria certamente desapontado com o de hoje, mas também surpreso com a variedade e quantidade do que tentei e aprontei.
I did it my way? Improvisei e me adaptei. Não foi épico. Fui prático. Jamais sentirei o que Sinatra ou Sid sentiram…
Live fast, die young - too late for that, too late for that.
Fazer o quê? Menos esforço. É fase para trabalhar menos, não mais. Vamos selecionar, subtrair, destacar, priorizar. Missão na medida para um editor experiente.
Fazer o quê? Me dar de presente a única coisa que só eu posso me dar: mais tempo hoje.
É sempre hoje.
Assim teremos tempo pra tomar aquela cerveja que tá combinada faz tanto tempo. Vamos? Eu pago essa.
É meu aniversário. Fazer o quê?
Meus parabéns pelo aniversário mas fui eu quem ganhou este lindo texto de presente.
Parabéns pelo aniversário, por sua vida e pelo texto que nos informou sobre a jornada e aventuras até aqui!
Desejo-lhe muitos anos mais, felizes, animados e que a tendinite e a bursite deem uma trégua, para podermos ser agraciados com muitos outros textos interessantes de sua lavra. Saúde, felicidade, paz e luz para você e os seus!