Considerando o horror em Israel e Palestina, é hora propícia para ler e reler "Como Curar Um Fanático". Como curar? Principalmente com humor, responde seu autor, o israelense Amos Oz.
Livrinho admirável. Minha edição toda rabiscada é souvenir do museu da Giudecca, o bairro de Veneza onde se originou palavra "gueto". Folheando hoje, parece relíquia de outros tempos, de irrecuperável suavidade. É de 2004.
Oz foi frequentemente beatificado por sua visão humanista. Também levou lambadas de lados vários. Não era santo, não existe isso. Mas jornalista, romancista e professor, argumentava sem viseiras nem medo de desagradar. E viveu a violência de sua região intensamente. Foi um moleque da Intifada. Cresceu garoto judeu tacando pedra nos opressores, na época britânicos.
Dificilmente vais encontrar voz mais ponderada e pragmática sobre o tema do que a de Amos Oz. Defendia a coexistência entre duas nações, uma pra cada povo. Talvez seja a solução menos ruim, a única possível. Não tenho estofo para opinar.
Talvez seja tudo impossível, como sugerem estes dias. Dureza manter a esperança em face à violência e estupidez do preconceito - racial, religioso, político. Que dirá o senso de humor.
A atual crise no mundo, escreve Oz, é sobre a antiquíssima luta entre pragmatismo, pluralismo, tolerância versus fanatismo. "O que precisamos? De um acordo. Acordo significa vida. O oposto de um acordo não é idealismo, nem devoção; o oposto de um acordo é fanatismo e morte."
É. Mas será possível curar um fanático? Será que eles querem ser curados? Ou têm consciência clara de que só vão prosperar alimentando mais fanatismo? Acordos não engajam nas redes sociais nem elegem políticos. Devoção demente, sim.
Nas duas décadas desde que o livro foi publicado ascendeu ao poder gente muito mais fanática. Por lá, por aqui, pelo mundo afora. Amos Oz se foi em 2018. Sabe-se lá o que diria do noticiário de 2023, dos crimes de guerra executados pelos líderes do Hamas e de Israel, uma espiral pro inferno.
Talvez insistisse na esperança. Vamos pensar que sim. Vamos pensar que vale resistir ao terror e à ignorância, que sempre vale tentar de novo - eterno murro na ponta da faca.
Trabalho árduo em Tel Aviv e em Gaza, no Brasil e em todo lugar. Quem sabe você tem jeito pra ele.
Eu simplesmente vivi para ver e escutar o ministro de defesa de Israel usar uma frase da Alemanha Nazista para se referir aos palestinos: que eles não eram seres humanos, mas sim animais humanos!
Que pedaço triste da história moderna. :(
Gostei do "Não tenho estofo para opinar.", eu também não tenho.
Mas preconceitos me incomodam muito e a naturalidade com que a esquerda preconceitua os evangélicos me causa estranheza, nada de tentar compreender, só bater.
Ah! Não sou nem cristão e se Deus/deus existe ou não a mim não tem a mínima importância, tanto quanto essa minha opinião não tem a mínima importância pra ninguém.