

Descubra mais de André Forastieri
A imagem eterna e inconstante do Ukiyo-e
Mergulhei num mar de gravuras. Nunca mais emergi
Ukiyo-e significa “imagens do mundo flutuante”. São gravuras sobre o transitório, o inconstante. O importante às vezes desimportante e seu contrário.
Reflete e contesta a rígida hierarquia social japonesa. São imagens de moças bonitas, lutadores de sumô e vendedores. Animais, riachos, morrinhos, oceanos, montanhas. Todo mundo conhece as mais famosas, de Hiroshige e Hokusai, o monte Fuji, aquela onda.
O melhor do Ukiyo-e foi produzido entre o século 19 e 19, antes da restauração Meiji, da abertura do Japão para o Ocidente. Que mostrou toda esta arte pros artistas do lado de cá, influência poderosa em muitos. Seria outro o impressionismo sem este impacto.
E seria outro o Ukiyo-e sem a influência em mão contrária do impressionismo ocidental. Foi também por isso que esta expressão não morreu com a modernização do país.
No século 20, ela se recriou no movimento Shin Hanga, que simultaneamente celebra e atualiza a gravura japonesa, se abrindo para o novo sem abandonar a tradição.
A influência da gravura continua rendendo. Está por aí - no que faz do Japão, Japão, dos kimonos ao design; às vezes, nas páginas dos mangás. Ou no ex-Twitter, onde reencontrei esses dias via Cultural Tutor o Hasui Kawase, um grande artista da gravura do século 20. Aqui tem o fio sobre ele.
E aqui alguns dos seus trabalhos, fora os que você vê entremeando este texto. É um dos meus artistas favoritos, porque tem todo aquele jeito de retratar paisagens dos clássicos, mas com poste, luz elétrica, asfalto, viaduto.
Uma coisa que esses artistas retratavam com muita atenção e sensibilidade é o clima. A chuva, a neve, a tempestade, o sol que nasce e se põe, a sombra das folhagens. Os antigos e os nem tanto.
E gente, gente, gente, gente.
Mergulhei pela primeira vez neste mar sem fundo em uma exposição em um dos museus mais iluminadores que conheço, o Museum of Asian Art de San Francisco. Eu estava sozinho e acabei passando a tarde lá.
Com o tempo fui colecionando livros sobre o tema, salvando sites, lendo perfis dos artistas. Arte para reproduzir aos montes, delicadeza na concepção e prática na impressão, papel que não dura e é pra sempre - wabi-sabi.
Fui pro Japão uma vez. No mercado velho de Kyoto passei uma hora e pouco explorando uma loja de Ukiyo-e. Saí com quatro reproduções.
Queria ter voltado todo ano pro Japão. Por mim morava um tempo lá. Nada feito. Retorno um dia em peregrinação. Dessa vez incluindo Hokkaido, pra ser assombrado por yokais, e pra visita que ficou faltando ao estúdio Ghibli.
Precisava ter outra casa, só para decorar com Ukiyo-e. Pensando bem, dá pra retalhar uns livros aqui da estante, enquadrar e decorar uma parede vazia.
Se você quiser explorar este oceano, mergulhe aqui.