Brian Peter George Jean-Baptiste de la Salle Eno. Nome de nobre sedutor de romance para moças, só mais um garoto nascido nos cafundós da Inglaterra no longíquo 1948.
O avô tocava vários instrumentos. O pai, carteiro, fazia bico consertando relógio. O tio, fã de pintura contemporânea, lhe apresentou o artista & teórico Mondrian. Escola católica, molequinho no embalo do primeiro rock´n´roll, maioridade a tempo de suingar nos sixties. Pistas, pistas.
Depois foi a alma experimental do Roxy Music. Roqueiro improvável e flamboyant. Pioneiríssimo da ambient music. Dono da gravadora Obscure Records, o nome diz tudo. Essa entrevista dele de 1974 pro NME com a Chrissie Hynde é histórica.
Produtor influente, de provocativo a hitmaker a ambos: Genesis, John Cale, Bowie, Talking Heads / David Byrne, Devo, James, U2, Coldplay etc. Umas poucas trilhas, “Egon Schiele”, Peter Jackson. Criou aquele barulhinho que você ouve quando abre o Windows - mais ubíquo impossível. Mudou o universo da música sem nunca ter sido músico.
Artista plástico & conceitual, fez experimentos marcantes com arte generativa em som e vídeo. Instalações e exposições mundo afora, Arcos da Lapa inclusos.
Vamos lembrar seu envolvimento com cientistas e futuristas, Global Business Network. Com tecnologia: vamos falar de seus apps e do game Spore e dos displays luminosos com efeito calmante, usados em hospitais.
Com política, África do Sul, Bósnia, Brexit, Palestina. Até a reinvenção da Europa: é chegado da galera do movimento DiEM 25, um passão à frente no pensamento da Esquerda Futura, em companhia de figuras como Zizek, Chomsky, Ken Loach, Toni Negri. E Yannis Varoufakis, assista eles papeando aqui.
Boas sacadas filantrópicas também. Como o Earth Percent, que co-fundou, em que artistas doam um pedacinho de seus royalties para o combate à Emergência Climática - Nile Rodgers, Hot Chip, Aurora e, dinheirinho bom, Coldplay.
Não esqueçamos Oblique Strategies, cem cartas com instruções inesperadas para embaralhar e desembaraçar o processo criativo. Inspirou artistas que Eno produziu e continua sendo útil para bandas como MGMT e Justice. Esse baralho pode ajudar qualquer um em qualquer iniciativa criativa, talvez você. Faça seu próprio deck com papel e caneta, ou compre o autêntico aqui na ENO SHOP.
Agora começa a se materializar o improvável documentário ENO. Passou em festivais por aí, estreia de verdade daqui a pouco. Ninguém assistirá dois iguais.
Porque usa um software generativo insano que cria e alterna sequências, cenas e transições. Costurando centenas de horas de gravação inéditas, música jamais ouvida, e essa trajetória incomum de Brian, em uma experiência que NUNCA SE REPETE DUAS VEZES.
Tudo isso não brotou de uma mente só. A maior parte foi co-criação. Brian contou com colaboradores de diversos campos, expertises, décadas, interesses, gerações. Sem sua capacidade de interlocução, sem a cabeça única de Eno, o mundo de 2024 seria bem diferente - e muito menos rico.
E nós, você e eu? Que coisas incríveis vamos criar com os nossos cérebros, e em companhia de quem?