A vitória do Fascismo de Resultados
A França indica um modelo global para la nouvelle ultra-direita, que ganha um banho de loja - e a preferência escancarada do big business
Na nova era da política, o dinheiro grosso seguirá apoiando velhos brucutus caricaturais como Trump e Bolsonaro. Mas se consolidou agora um novo produto para o mercado eleitoral global.
É a ultra-direita sem gluten e lactose, com calorias reduzidas, para mais fácil digestão goela abaixo do eleitorado. Mais “responsabilidade”, menos troglice. Vamos chamar de “Fascismo de Resultados”.
O “case” é o bonitão acima Jordan Bardella, 28, vice-líder do RN, o mais tradicional partido de ultra-direita da França.
Jordan, “moderno e moderado”, é empacotado como alguém que veio de baixo e venceu pelo próprio mérito. Praticamente um top voice LinkedIn. Sangue italiano e argelino inclusive, “gente como a gente”, não um filho do establishment como Macron. Militante da RN desde os 16 anos, é racista, negacionista, homofóbico, islamofóbico etc. Mas tudo light, sem sangue no zóio.
O banho de loja é bom movimento de Marine LePen, que nos últimos anos aparou arestas várias, trocou o nome do partido e acenou ao centro. Tem boa chance agora de chegar ao poder.
A França foi exceção importante e vistosa. Essa eleição manteve o centro à frente da União Européia, com uma inclinação maior para a direita que anteriormente. A tendência inercial é de manutenção da mediocridade e ortodoxia tradicionais.
Mas o Século 21 desloca a esquerda para o centro, o centro para a direita e a direita para uma mutação moderninha do fascismo. É inegável a crescente normalização da ultra-direita no Velho Continente. Ela não venceu mas cresceu. Tem tudo pra continuar crescendo e promover maiores e piores barbaridades.
A ultra-direita cresce metendo medo nas pessoas e oferecendo soluções fáceis. Cresce oferecendo um futuro compreensível; parece progresso, prometendo um passado imaginário. Cresce porque garante certezas contra o desconhecido. Cresce porque frequentemente é mais sexy, fashion e rock´n´roll. Cresce porque traz resultados concretos e rápidos para quem a financia.
Cresce porque é útil.
As pessoas e forças à esquerda têm muito o que repensar. E vão ter que repensar, e reagir, mais rápido. Quando a esquerda se limita a gerenciar a escassez, entrega espaço político de mãos beijadas para a ultra-direita, com quem disputa o território da utopia.
Se a esquerda não apresenta soluções convincentes para grandes angústias do eleitor (como imigração, ou no Brasil, segurança) e nem propõe novidades que eletrizem a imaginação (como renda básica universal, digamos), não briga nem no front cotidiano, nem no imaginário.
É impossível mudar o pensamento de um fanático com argumentos. O fanatismo é uma perspectiva muito específica. Mas nem todo eleitor da direita (ou mesmo ultra) é fanático. Por exemplo: na Áustria foi muito bem a direita, porque o tema central lá é imigração. Muito austríaco que não é talibã entende que nessa questão, a direita tem uma proposta mais viável e responsável que os outros.
Não é que a gente odeie os imigrantes, a gente só não quer bancar eles no nosso país, até por razões de responsabilidade fiscal… não existe almoço grátis, né?
Tudo tem explicação. Geralmente é dinheiro. E na política, geralmente é quem tem o dinheiro.
A ultra-direita é ponta de lança de poderosos interesses econômicos mainstream. Ou assim erroneamente tratados no debate político, cultural, jornalístico.
O objetivo é a manutenção e ampliação do fundamentalismo financista. Amplificar força dos bilionários para pagar menos e menos impostos. Diminuir os direitos e liberdades do cidadão.
O conservadorismo extremo entrega mais resultados que o Centro, com suas concessões ao rame-rame democrático. Mas ele precisa aterrorizar sem horrorizar. Muitas pessoas exigem limites para a escrotidão e a crueldade.
Por isso, a ultra-direita civilizada e responsável - que conceito - terá cada vez mais a preferência dos poderosos. A prova está no noticiário de ontem, hoje e todo dia.
O Fascismo de Resultados é best for business.
Que merda, André. Minhas filhas vão ter que lidar com uma tempestade (im)prefeita de emergência climática e neo-fascismo. Já tenho que prepará-las para a batalha...